Parece que está definido: a China é a principal fábrica do mundo. Os Estados Unidos são o supermercado: produzem conhecimentos, tecnologias, produtos de alta tecnologia embutida, compram de todos e vendem de tudo. Ao Brasil resta o papel de exportador de commodities, minérios e alimentos, mesmo assim com muita dificuldade. Eu que o diga: meu projeto de irrigação na fazenda encontra todo tipo de entraves, atraso na entrega de equipamentos e materiais, falta de pessoal especializado para montagens, burocracias, demora na ligação de energia. Vai atrasar quase 1 ano.
Muitos empresários brasileiros transferiram fábricas para a China. Lá os produtos são fabricados, colocadas as marcas e etiquetas e vendidos aqui como se fossem produzidos localmente. Trata-se de ampla gama de produtos. Segundo estudo da Fiesp, a participação industrial no PIB brasileiro em 2004 foi de 19,3%; em 2012, caiu para 13,3%, e pode atingir 9,3%, em 2029, se imperarem as mesmas condições. Nossa indústria está derretendo, não mais tem mercado por não ser competitiva. Relata ainda o estudo que todos os países que conseguiram dobrar a renda per capita, no intervalo de 10 a 20 anos, tinham participação industrial de 20% a 30% no PIB. Logo, a melhoria de renda do nosso povo está comprometida.
Precisamos de um choque de produção, em que tenhamos produtos em abundância e de boa qualidade. Parece que a política é produzir pouco e vender caro. Assim, o lucro projetado é mantido. Seria mais inteligente produzir muito, vender barato e, certamente, obter maior lucro. Haveria economia de escala, geraria mais empregos e elevaria a renda da população, política crucial para o país. Diante do atual quadro, as pessoas de maior renda reagem e vão a Miami e Nova Iorque, que são as principais fontes abastecedoras. A quantidade de produtos e a concorrência são tão fortes que o custo da viagem é compensado regiamente. Para se ter uma ideia, um artigo de vestuário, de qualidade comparável, custa 30 dólares e em BH é vendido por 150 dólares. Muitas pessoas vão a Miami comprar enxovais de recém-nascidos. Adquirem tudo para os primeiros meses e, entusiasmados com preços, compram para os anos seguintes. Adquirem também o carrinho para transporte da criança e a cadeirinha de automóvel. Mesmo pagando os impostos, é altamente compensador. Daí se compreende a razão dos altos gastos de brasileiros no exterior, com compras e turismo. Aliás, o turismo no país é proibitivo. Uma temporada no Rio é mais cara do que em Miami. Assistimos a tudo passivamente.

 

É dificílimo ser empreendedor no Brasil. É um dos países menos amigáveis para essa atividade. Há muitas oportunidades de ganhos de gestão para o aumento da produtividade, como otimização de processos, redução de desperdícios de materiais e energia, treinamento de pessoal para melhor execução das tarefas, entre outros. Porém fora da empresa a luta é inglória: carência de infraestrutura, burocracia severa, elevados tributos, a anacrônica CLT, a corrupção endêmica, são exemplos de entraves que minam os mais entusiastas. Associações de classe deveriam conduzir lutas renhidas contra tudo isso. Infelizmente, há dirigentes dessas organizações alinhados com o governo, outros disputando eleições, o que diminui o poder de reivindicar. Não há esperança!
Além do exposto, julgo que nosso estágio é bem pior do que parece. A situação é deplorável nas contas públicas, na educação, na saúde, na segurança (1 pessoa é assassinada a cada 10 minutos), no trânsito (160 são mortas por dia, dados de 2012), estamos perdendo a guerra para o tráfico, entre outros. Assisti há poucos dias a uma palestra de um prócer governista. Alinhavou alguns dados e destacou que temos uma situação privilegiada, a melhor de nossa história. Pensei que discorria sobre outro país. A gastança de má qualidade está oficializada. Austeridade é outro choque de que precisamos. Qualquer chefe de família que gastasse mais do que ganha, por muitos anos, já estaria insolvente. As contas têm que fechar, isso é trivial. Mas a propaganda oficial demonstra uma situação cor-de-rosa. Isto induz brasileiros, v.g., a gastar no exterior, todo ano, cerca de 30 bilhões de dólares. Não tem problema, somos ricos e tudo vai bem. Nada vai mudar, mantenham-se os 39 ministérios.