No Brasil, além do jeitinho, há o costume de se tentar conseguir as coisas sempre com o menor esforço. Em vez de aprenderem, algumas pessoas querem de imediato o ”dedo que faz a mágica”.  Vi este tipo de episódio acontecer várias vezes em minha trajetória.  Em 1993 o nosso movimento pela qualidade já era um grande sucesso. Tínhamos treinado cerca de 150 mil executivos. Empresários e políticos chegavam a fazer lobby para conseguir vagas nos nossos treinamentos. A disputa era tão acirrada que o tamanho ideal de uma turma era de 80 pessoas, mas tive que de aceitar até 135 participantes por turma. De fato, não era o ideal, mas considerei que era estratégico fazer isso pensando nos benefícios para o País.   Também, a assistência técnica  a empresas para implementação do método de gestão já era uma realidade.

Àquela altura, devido ao vulto que alcançamos,  muita gente queria saber o segredo do nosso sucesso. Muitos pensaram que a chave de tudo era a nossa parceria com a JUSE-União Japonesa de Cientistas e Engenheiros. Executivos de organizações nacionais que pretendiam copiar a nossa atuação  lançaram-se à empreitada de buscar a mesma parceria que tínhamos com os japoneses. Uma importante organização do Rio Grande do Sul convidou o Sr. Junji Noguchi, diretor executivo da JUSE, para ser um dos palestrantes no congresso anual que promovia. Seria um bom momento para cooptá-lo. Outra organização paulista, usando influência política, buscou estabelecer  a parceria  utilizando a cooperação bilateral Brasil-Japão. Em meados de junho daquele ano, o Sr. Noguchi veio ao Brasil e eu o acompanhei  para assisti-lo e também para entender as proposições dos futuros possíveis concorrentes. A minha presença não visava a garantir a  reserva de mercado para nós, mas tentar impedir a pulverização dos recursos da JUSE no Brasil.

Assisti à palestra do Sr. Noguchi e constatei que nos contatos ele não teve argumentos para negar receber uma missão gaúcha ao Japão. Porém, a almejada parceria restringiu-se a esse evento, pois não houve desdobramentos da parte brasileira que garantissem escopo relevante para continuidade da cooperação.  Depois fomos a Brasília, onde houve o contato com técnicos da Itamaraty. Eu conhecia alguns técnicos responsáveis por cooperações internacionais de projetos que havíamos executado no Departamento de Metalurgia/UFMG. Tentei, por meio deles, demonstrar a inconveniência de abrir outra parceria no Brasil já que a JUSE era muito requisitada por vários países. Certamente, iria dispersar recursos humanos que eram importantes para o nosso programa naquele momento tão crítico de crescimento. A influência política preponderou e a parceria foi feita. Recursos humanos do Japão foram enviados (como eu previa, compartilhados conosco). Tentou-se trabalhar por um tempo, mas não houve empatia, ambiente e contrapartida da instituição receptora para assegurar resultados expressivos. A parceria esvaziou-se.

Enganaram-se aqueles que pensaram que a executora da “mágica” era a JUSE. É claro que ela foi fundamental para o nosso programa,  recebendo as 33 missões técnicas que enviamos ao Japão ao longo de doze anos e enviando especialistas para a transferência de conhecimentos e experiências, entre outros benefícios. Como iniciamos em 1996, é inegável que a grife nos deu respaldo e aval para trabalhar na área. Mas o que fez a diferença foi  que nós fizemos o “para casa“ integralmente. Preparamo-nos! Sempre havia pessoas capacitadas para dialogar com especialistas externos e absorver os novos conhecimentos. Além disso, já tínhamos um conjunto de empresas clientes que recebia assistência dos japoneses. Estes se faziam acompanhar pelos nossos consultores em treinamento, nem que fosse para carregar as malas deles.  Em um tempo curto, passamos de alunos a orientadores. Como resultado de tudo, aprendemos a fazer as ”mágicas”. Dito assim parece que foi fácil, mas demandou muito esforço gerencial e habilidade política para ancorar o programa na UFMG até 1998 (num ambiente que demonstrava perplexidade diante de um projeto de  tal envergadura), trabalho duro de toda equipe, dedicação e persistência. Partir do zero e chegar a ser a maior consultoria brasileira em gestão requereu gerenciamento eficaz, suor de muitas pessoas de diferentes áreas de competência, trabalho de equipe e criatividade para atingir o objetivo.

O que confirma a minha tese é que a JUSE também manteve por longo tempo parcerias com dois países da América Latina. Como não adotaram o mesmo nível de organização, pouco restou após o término das citadas parcerias. Limitaram-se a realizar palestras, seminários e cursos com a participação dos consultores japoneses. Também, nos dois casos brasileiros relatados acima, houve logo o desânimo ao descobrirem que não havia caminho fácil a ser trilhado: só existia a porta estreita do trabalho competente e dedicado. A sigla JUSE sozinha era incapaz de fazer a “mágica” almejada. Ela não foi o “dedo mágico” responsável pelo nosso sucesso. O Prof. W. E. Deming, guru internacional da gestão, dizia: “Nada substitui o conhecimento”. Pela minha experiência, não tenho dúvida de que, para adquiri-lo e fazê-lo transformar-se em resultados,   é preciso de gente inteligente, bem liderada, dedicada, persistente e, sobretudo, com disposição de lutar para fazer acontecer. Isto valeu para nós, como vale para qualquer outra iniciativa que pretenda ser bem-sucedida. Não tem outro jeito. Não existe lanche de graça!