Realizou-se, em maio deste ano, o Fórum Visão de Futuro Aquila 2020, destinado a discutir estratégias para atingir metas projetadas para aquele ano. Contou-se com a participação do sociólogo Domenico De Masi, que veio ao Brasil fazer o lançamento do seu novo livro O Futuro Chegou. Em brilhante palestra, discorreu sobre circunstâncias em que autores denominaram o Brasil como o país do futuro. Até hoje, é quase consenso que continuamos a nos considerar como tal. Todavia, o autor mostra, com convincentes argumentos, que o nosso futuro já chegou. Na sua opinião, “o Brasil submeteu-se e, de certa forma, aceitou o modelo europeu por 450 anos e depois o americano por 50 anos. Mas isso não o impediu de cultivar seu próprio caráter….”. Defende que o modelo brasileiro “espera somente ser mais conceitualizado, ser explicitado e oferecido ao mundo pelos intelectuais brasileiros, assim como já tentaram fazer, no século 20, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro e outros grandes inventores do Brasil”. Vale a pena debruçar-se sobre a abra, principalmente o último capítulo dedicado ao Brasil, para melhorar a nossa autoestima, reconhecendo os impressionantes atributos de que dispõe o país. Temos o complexo de vira-lata, e precisamos reconhecer os nossos feitos e potencialidades, realçados pelo insigne pesquisador.

O Brasil tem significativos trunfos para ser um grande protagonista no cenário mundial: tem grande extensão territorial, vasta gama de recursos naturais (a matriz energética com recursos renováveis pode ser bastante ampliada), população de 200 milhões constituída em grande parte de jovens (dentro de alguns anos teremos um bônus demográfico, época em que a maior parte da população será produtiva). Somos a 7ª economia do planeta e o 5º país mais industrializado. O agronegócio, em crescimento, tem garantido importante participação no PIB nacional, gerando divisas e alimentando parte da população mundial.

A pergunta que se faz: o que falta? Evidentemente, gestão, abarcando os seus pilares básicos: qualidade, custo e atendimento. Na vertente qualidade, destaca-se a incompetência dos políticos e da elite pensante, salvo honrosas exceções. Não têm claros descortinos sobre as causas fundamentais que impedem o nosso desenvolvimento e de como atacá-las. De Masi destaca o estadista Fernando Henrique Cardoso, “o presidente sociólogo que incrementou a riqueza nacional”. Eu também reconheci os seus méritos, em artigos anteriores. Em termos de custo, destaco que a carga tributária é elevada. É, de fato, alta quando se considera a qualidade dos serviços prestados em educação, saúde, segurança (o país é campeão mundial de assassinatos), saneamento básico e infraestrutura, abaixo da crítica, impensável para um país com economia tão pujante. É possível que o estabelecimento de prioridades seja errôneo. Financiar projetos em outros países (mais de 40) talvez seja mais importante, embora eu não reconheça esse mérito. Ninguém estaria reclamando de pagar pesados tributos se tivéssemos usufruindo de serviços essenciais de boa qualidade. Que falar de atendimento? Sem comentários. Basta ver as filas e o atendimento em hospitais. Não é preciso gastar mais palavras para discorrer sobre o caos existente.

Qual deve ser a nossa aposta? Torcer para que as instituições consigam depurar-se como consequência do combate atual à corrupção e haja conscientização sobre o nosso inexplicável estágio. Devemos ficar atentos ao aparecimento de novas e autênticas lideranças (quem sabe também um estadista? Outro JK ou FHC), competentes e capazes de perceber e de atacar os problemas realmente importantes. Não é preciso ser mágico. O princípio de Pareto estabelece a respeito dos problemas: “São poucos vitais e muitos triviais”. Atacar os problemas vitais é a senha e colocar menos ênfase nas perfumarias. Não dá para administrar mal todas as demandas e ainda fazer benesses a outros países aliados. Espero que surjam pessoas que entendam que o nosso futuro já chegou, precisando apenas de competentes intervenções, de natureza gerencial. É claro que será necessário reduzir o gigantismo do estado e cortar custos (suprimir ministérios e cargos comissionados, privatizar etc) para que os recursos sejam utilizados em áreas essenciais.