Temos uma fazenda em Frei Inocêncio, a 330 quilômetros de BH, que requer cuidados administrativos e presença dos donos, com certa frequência. A viagem à fazenda é um desafio, apesar da pequena distância. A melhor opção é o trem da Vale. Porém, de porta à porta, são 8h, o que, convenhamos, é um tempo muito longo para cobrir distância tão reduzida. A viagem de avião tem custo exorbitante (por falta de concorrência) e ainda é imprevisível. Com mau tempo ou céu nublado, o avião não aterrissa por falta de instrumentos. Em 2 oportunidades, sobrevoamos a cidade e tivemos que aterrissar em Ipatinga, onde o aeroporto é mais bem aparelhado. Completa-se a viagem de carro. Em outra ocasião, retornando a BH, o avião não pôde aterrissar e o voo foi cancelado. Tive que enfrentar a BR–381, o que nunca mais farei. Esse descaso é um grande absurdo. Uma região economicamente tão importante merece aeroporto com recursos mais adequados. A viagem pela BR–381 não é uma opção. A rodovia é perigosa, com muita razão batizada de rodovia da morte. Nas minhas últimas experiências, além dos sustos, houve atrasos de várias horas. São comuns os acidentes, com interrupção do trânsito, devido a carretas tombadas, entre outros percalços. Descrevo essas dificuldades para demonstrar o quão mal servido de infraestrutura está o país. Certamente, com rodovia duplicada e outro traçado, faríamos a viagem em, no máximo, 4 horas.

A propósito, a BR–381 é um case intrigante. A sua análise revela a falta de planejamento dos governantes, de respeito para com a população e de negligência com o desenvolvimento regional e suas potencialidades. Sinaliza que estamos entregues à nossa própria sorte. Somos simplesmente massa de manobra por ocasião das eleições. Senão vejamos. No início de 2014, tive que visitar um irmão enfermo em Timóteo e fiz um voo para Ipatinga, aeroporto mais próximo. Ao desembarcar, vi um jato da FAB com capacidade para 100 pessoas. Quis saber o que estava acontecendo. Era o cerimonial do governo federal que chegara à cidade numa quinta-feira. Disseram-me que a presidente viria, na segunda-feira seguinte, anunciar a duplicação da 381. Mas já houve vários anúncios dessa medida, lembrei-me! Logo pensei nos custos envolvidos, hospedagem e alimentação de 100 pessoas, o custo da viagem, despesa de mobilização de pessoas para a participação no evento etc. De fato, houve grande comício, com autoridades e a claque local mobilizada pelo cerimonial. Deu-se a impressão de que agora a obra sai mesmo. Meses depois, foi a presidente a GV para anunciar a duplicação do trecho Ipatinga-GV. Para mim, já estava isto implícito no anúncio anterior. Na realidade, uma festa para mobilizar a população. O interessante é que logo em seguida se desmentiu o anúncio: Ipatinga-GV não será duplicada, apenas melhorada.

Depois de tudo isso, houve algumas iniciativas como licitações de trechos e início de obras. No momento, tudo está paralisado, por falta de recursos e outros óbices, como desapropriações. Em administração, o planejamento é um conceito fundamental. Mas, no Brasil atual, trabalhar com planejamento e previsibilidade são coisas supérfluas. Não há um projeto de país. Lançam-se em aventuras de forma irresponsável, sem nenhum respaldo financeiro. Administra-se na galega, sem compromisso com a realidade. Para ganhar eleição, tudo vale. Aliás, já se tem, hoje, consciência de que perdemos a década da bonança brasileira proporcionada pela venda de commodities a preços elevados. Lula da Silva, se tivesse uma visão mais abrangente, poderia ter guindado o país a patamares mais elevados. Ao considerarem o Brasil como bola da vez, investidores teriam participado de concessões, de privatizações, em condições vantajosas para a nação. Teríamos ficado livres deste estado gigantesco, com custos impagáveis. Não estariam hoje produtores e transportadores em agonia, tentando suplantar os atoleiros para escoar a safra de grãos. O quadro é caótico e sem solução. Com um governo sem credibilidade, ninguém vai querer investir. Dá tristeza constatar a oportunidade perdida. Por isso, urge ficarmos livres destes governantes incapazes que ainda lutam, com todos os meios, para permanecer no poder.