Autor: José Martins de Godoy

Sustentabilidade: por que não deslancha

Após uma palestra, fui perguntado sobre a razão pela qual a sustentabilidade não sai do papel, apesar de grandes discussões como as Conferências da ONU, Estocolmo 1972, Rio ECO-92 e Rio+20. Na década de 80, a ONU nomeou a ex- primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Bruntland, que produziu o Relatório denominado “Nosso Futuro Comum”, concluindo que o desenvolvimento deve ”satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades”. Hoje há a consciência de que a sustentabilidade envolve questões sociais, energéticas  e ambientais. A questão é complexa. Países ricos cresceram materialmente utilizado de forma desregrada recursos naturais, devastando, degradando e poluindo.  Agora relutam em baixar o nível de seu “bem estar” para cuidar dos passivos existentes. Países pobres, principalmente os emergentes, tentam desenvolver-se com a adoção de práticas semelhantes, pois é oneroso  cuidar dos temas atinentes à sustentabilidade. Daí, o impasse. Entendo que, sem o consenso, o motor para a mudança deve ser o cidadão. E isto se daria por meio da educação. Não me refiro à instrução, pois há muita gente instruída, da classe privilegiada, mal educada. No bairro de classe média alta em que moro motoristas  avançam sinais de trânsito e buzinam insistentemente atrás de quem está mantendo o limite de velocidade; síndicos  determinam a  limpeza de passeios de pedras portuguesas, gastando água potável, energia elétrica e trabalho humano, além...

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Ó meu Brasil, e agora?

Morei  na Noruega  durante três ano cursando o doutorado.  Respondia a perguntas sobre futebol, carnaval, desigualdades sociais, pobreza, favelas e também sobre supostas matanças de índios.  As perguntas eram quase censuras. Como  entender um país de dimensões continentais, com tantos recursos  e  tantos problemas?  Estaria em mãos erradas? Ao terminar o doutorado, ofereceram-me o pós-doutorado. Agradeci. Tudo aqui está pronto e no Brasil quase tudo está por fazer. Devia voltar e ajudar no que me coubesse. Iniciei  na UFMG em 1972 com o firme propósito de contribuir para que a pós-graduação em metalurgia, recém-criada, alcançasse nível de excelência  e, como consequência, acarretasse a melhoria  da graduação. Nos anos seguintes houve o término do regime militar e redemocratização,  sem avanços  sociais muito significativos. Felizmente, foram feitos  investimentos na área de energia (Itaipu, Tucuruí e outras), o que garantiu insumo básico para o futuro.  A inflação foi sempre  grande entrave para visões otimistas de futuro. O período  FHC  deu-nos novas  perspectivas. Estabilização da moeda,  lei de responsabilidade fiscal, metas de inflação, privatizações, universalização do ensino público, o Proer, entre outras medidas.   Começamos a ter um País sério. Pela sua  formação esmerada e postura de estadista, o Presidente representou-nos   brilhantemente  no exterior. Infelizmente, não foi feito  planejamento, um robusto projeto de desenvolvimento para o país, cuja continuidade na condução fosse imperiosa ao sucessor. Os seis anos seguintes  foram de abundância. Com cenário...

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Qualidades do líder

Gerenciar é atingir metas. É também resolver problemas, entendendo-se como problema o mau resultado obtido na condução de uma atividade-fim.  O método e ferramentas para atingi-las fogem ao escopo deste artigo por se tratar de assunto de cunho mais técnico. Para atingir metas é fundamental que exista liderança. Ao consultar livros de administração, verifica-se que o líder deve ter grande número de qualidades.  São tantas que é difícil encontrar pessoas com todas elas, razão pela qual existem poucos líderes capazes de preencher o amplo espectro de conhecimentos, competências e habilidades desejados. Conquanto seja possível formar líderes, martelando requisitos para a prática satisfatória da liderança, algumas qualidades são inatas.  Outras, como o caráter, são trazidas do berço, adquiridas na juventude em ambiente de convivência fraterna no lar e   outros espaços  saudáveis de interação.  Saliento algumas qualidades do líder. Ter profundo respeito pelo ser humano, capacidade de congregar pessoas e motivá-las para atingir os fins nobres desejados. Também a humildade é uma virtude a ser cultivada (humildade vem do latim humus, de onde também deriva o homem. Remete-nos à lembrança de que ao pó voltaremos).  Também ressalto que bons líderes são éticos.  Valores universais como a honestidade, lealdade, amor ao próximo, apreço pela verdade, entre outros, são práticas  constates na vida dessas pessoas. Além disso, segundo Manfred Kets de Vris, considerado um dos principais pensadores das áreas de liderança e RH,...

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Um puxão de orelha do Dr. Deming

No projeto contratado pelo Governo Brasileiro à FCO-Fundação Christiano Ottoni/UFMG, para desenvolvimento de um Curso Padrão em Qualidade e Produtividade, havia recursos para pesquisa e participação em cursos e seminários no exterior. Fomos aos Estados Unidos, o Prof. Carlos Bottrel e eu, para participar do Seminário do Prof. W. Edwards Deming, realizado em Dallas, em 1986. Dr. Deming (1900-1993) foi um estatístico, professor, escritor consagrado e consultor americano. Trabalhou com Walter A. Shewhart (1891-1967), que é conhecido pelo desenvolvimento do controle estatístico de processos e precursor do ciclo PDCA. Shewhart, juntamente com Deming, Joseph Juran e Peter Drucker são os verdadeiros “gurus” da administração. Tudo que vem depois decorre deles. Após a II Guerra Mundial, a partir de 1950, Dr. Deming participou do esforço de reconstrução do Japão, como assistente do Comando Supremo das Forças Aliadas. Pessoa muito afável, cativante, carismática, ensinou a altos executivos japoneses  métodos para melhoria da qualidade e da produtividade, principalmente métodos estatísticos. Também difundiu a executivos os seus 14 Princípios da Administração para a melhoria das empresas. Apesar de ser considerado um herói japonês, só foi reconhecido nos Estados Unidos nos últimos anos da sua vida. O seminário  tinha a duração de 5 dias, de 2ª. a 6ª. feira, com aulas e exercícios e  imersão total. No quarto dia, já estávamos bastante cansados. Durante uma sessão de exercícios à noite, resolvemos da uma espairecida...

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Sentimento de menos valia

O Brasil segue sendo a 7ª economia do mundo. Todavia, alguns dos nossos indicadores como IDH (79º), teste do Pisa (55º em leitura), qualidade de internet (90ª), por exemplo, deixam muito a desejar. Ainda assim, seria de se supor que pessoas de países com os quais mantemos maior intercâmbio conhecessem um pouco mais de nossas coisas. Ao contrário, são desinformadas. Há alguns anos, isto era compreensível. Quando fiz pós-graduação na Noruega, era questionado sobre matança de índios, favelas, pobreza. Aqui era a terra do futebol e Carnaval, disso sabiam. Tinha que levar numa boa. Lá estava como subdesenvolvido, bolsista de uma agência norueguesa dedicada ao desenvolvimento internacional. Algum tempo depois, já na UFMG, como coordenador da pós-graduação em metalurgia, apresentamos projeto à ONU para ter um expert sueco em processos especiais de fabricação de aço. Selecionamos o especialista entre 3 que se candidataram e tivemos todo o cuidado de informar o estágio em que se encontrava o nosso programa. Já tínhamos o mestrado funcionando há bem tempo, inclusive com a produção de muitas teses e artigos publicados, e os docentes eram, na sua maioria, portadores do título de Ph.D, obtidos em vários países. Parece que a pessoa não acreditou no nosso relato. As aulas que começou a ministrar se referiam a conceitos básicos de termodinâmica, os quais eram dominados pelos mestrandos desde o curso de graduação. Tive que paralisar...

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