Em meados de 1995, participei em Brasília, no MIC-Ministério da Indústria e Comércio, de reuniões com seus dirigentes( Ministro e Secretário Executivo) sobre programas e ações para melhorar a qualidade e produtividade no País.

Nessas reuniões tomei conhecimento  do propósito de se instalar o Instituto Brasil-Japão de Qualidade e Produtividade, no âmbito da cooperação entre os dois países. O Brasil teria que colocar considerável  contrapartida, mas o Japão aportaria recursos extremamente importantes, ou seja, conhecimentos por meio da vinda de cerca de 20 especialistas japoneses por alguns anos, além de recursos financeiros.

Interessei-me vivamente pelo assunto e saí a campo para demonstrar que tínhamos todas condições de sermos esse Instituto.  Ora, inicialmente financiados pelo próprio Governo Federal e depois com recursos próprios, já tínhamos uma longa trajetória no assunto. Por meio da Fundação Christiano Ottoni/EEUFMG já produzíramos  material didático importante para a área, havíamos treinados cerca de 200 mil executivos brasileiros,  estávamos prestando assistência técnica a grandes empresas do País, como Petrobras, Vale, Cosipa, Belgo Mineira, Cosipa, Brahma, Gerdau, entre muitas outras. Na época, já contávamos com cerca de 100 consultores, além de técnicos de empresas estatais parceiras, principalmente do setor siderúrgico, que reforçavam nossa equipe nos momentos de grande demanda.  Tínhamos a experiência de que, para absorver conhecimentos, era necessário ter equipes preparadas para dialogar com quem domina tais conhecimentos. Esta experiência fora adquirida no próprio Departamento de Engenharia Metalúrgica da UFMG, onde já recebêramos muitos professores estrangeiros, e também  Projeto de Gestão pela Qualidade, por meio do acordo com a JUSE-União Japonesa de Cientistas e Engenheiros. Pelo acordo, contávamos com alguns especialistas na área, cujo número era reduzido por limitação de recursos. Assim, tínhamos experiência em interagir com japoneses, tínhamos equipes capazes de dialogar e absorver conhecimentos e, ainda, um grande número de empresas clientes que seriam o laboratório para aplicar os conhecimentos.

Pensando que a escolha do local seria definida por critérios técnicos, conversei com várias pessoas, inclusive com os dirigentes do Ministério, apresentando os nossos dados, realizações, capacidade instalada, apoio institucional da UFMG, entre outros argumentos. Por um tempo, fiquei esperançoso de que pudéssemos ser contemplados com aquele apoio, o que representaria um salto gigantesco. O nosso Programa era um sucesso, mas fora conseguido a duras penas, com muito trabalho, persistência, obstinação. Com exceção do início em que contamos com financiamento do Governo Federal, o nosso crescimento era calcado em esforço próprio. Um apoio da tal magnitude multiplicaria o nosso esforço por três ou quatro. A nossa contribuição para o Brasil já era notável e, com mais recursos, os avanços seriam incalculáveis.

Com o passar do tempo, percebi que a escolha do local seria uma decisão política. Um senador/banqueiro paranaense, que fora inclusive Ministro da Indústria e Comércio, estava empenhado em levar o Instituto para o Paraná. Como último recurso, fui à Secretaria de Tecnologia Industrial do MIC. Ponderei com o seu titular que o nosso Projeto nascera lá  e que, se fôssemos contemplados com os recursos, a contribuição  para o País seria mais expressiva.  Não  é que o cidadão acabou me contemplando com um grande “incentivo”. Disse-me que eu queria “reserva de mercado”. Joguei a tolha! Este registro é mais uma prova dos grandes esforços que tivemos de empreender para tornar o nosso projeto um movimento vitorioso,  cuja contribuição para a Nação é extremamente relevante.

Pois, bem. Instalaram o Instituto Brasil-Japão no Paraná. Não me interessei pelos seus dados. Sei que vieram os primeiros japoneses. Mas sem  equipes competentes para  dialogar e absorver conhecimentos e um conjunto de empresas para que pudessem ensinar a prestação de assistência técnica, tinha eu a convicção que o trabalho não teria tanta repercussão. Não ouvi falar de bons resultados. Um gerente que trabalhava conosco tentou estabelecer alguma parceria com o grupo. Ele fizera pós-graduação no Japão, era fluente em japonês e queria utilizar os especialistas. Ficou só na tentativa. O relato mostra mais uma oportunidade perdida, mau uso de recursos. Coisas brasileiras.