Vale lembrar a seguinte história: um fabricante de sapatos enviou um vendedor para determinada região, com a finalidade de aumentar a venda de seus produtos. Como o vendedor era pessimista, relatou ao empresário que não havia chance de vendas, pois o pessoal da região não usava sapatos. Inconformado, o fabricante enviou outro vendedor. Este, otimista, informou entusiasmado que havia grande oportunidade de vendas, pois o pessoal não tinha sapatos.

 

Vejamos o que aconteceria se o presidente de um grande Grupo Estrangeiro enviasse um especialista ao Brasil para verificar possibilidades de aqui investir. Julgo que ele analisaria alguns indicadores do País e relataria: o IDH é o 75o entre 188 países; é um dos piores em matemática e ciências, ocupando a 133ª posição entre 139 países (ranking do Fórum Econômico Mundial). Consta que cerca de 30% das pessoas são analfabetas funcionais, o que é um grande entrave ao desenvolvimento; o desemprego atingiu 11,4 mi de pessoas; parece que há uma guerra civil, pois 60 mil pessoas foram assassinadas e 43 mil morreram no trânsito, em 2015; a competividade é baixa, é o 57o lugar entre 62 países; a contribuição da indústria para o PIB é de cerca de 10%, sendo que já foi de 19%; a dívida pública só aumenta e está perto de R$ 3 trilhões; a infraestrutura é inadequada, dificultando principalmente o escoamento da produção; a carga tributária é muito elevada, quando se leva em conta o retorno do governo em serviços públicos; a regulação do trabalho é obsoleta e representa obstáculos à atividade econômica; a burocracia é infernal; a corrupção é endêmica. Toda a semana estoura um escândalo de grandes proporções; o País está relativamente isolado. Faz parte do Mercosul que é, na realidade, uma fantasia. Tem apenas 3 acordos bilaterais, com Israel, Palestina e Egito, enquanto o Chile, p.ex., tem 57 acordos; o peso do Estado é gigantesco; não há lideranças políticas confiáveis; a segurança jurídica e o direito de propriedade não inspiram confiança, principalmente com relação a investimentos externos; uma camada da população tem aversão ao capital externo; um grupo político insiste em dizer que a Nação está dividida entre nós e eles. Concluindo, o enviado, uma pessoa realista, certamente   informaria: sem chances de êxito na obtenção de resultados dos investimentos no País. O risco é muito elevado.

 

Persistente, o presidente resolve enviar uma segunda pessoa na tentativa de descobrir oportunidades. Afinal, o Brasil é a nona economia do mundo ( já foi a sétima) e deve ter alguma coisa a explorar. Este novo enviado poderia ter a seguinte visão: a liquidez mundial está elevadíssima. Se houver credibilidade, acompanhada de estabilidade política, segurança jurídica e respeito a contratos, como vem sendo apregoado, recursos internacionais em abundância podem ser carreados para o País. Afinal, pagam-se as melhores taxas do mundo; o desemprego está elevado, logo existe muita gente para trabalhar; fala-se em venda de estatais e realização de concessões, o que demanda de recursos externos. Isto traria o benefício de diminuir o tamanho do Estado e melhoria da administração pública. O emissário também notaria um grande esforço no combate à corrupção. Como um milagre, surgiu um Juiz que está dando esperanças aos brasileiros com relação ao tema, embora haja alguns magistrados que começam a impedir o surgimento de juízes semelhantes. Fala-se em reformas que poderão contribuir para o combate à inflação e endividamento público. Fala-se até em limitar os gastos públicos por meio de lei aprovada pelo Congresso. Ora, se tudo caminhar bem, o País poderá entrar nos eixos. Então, seria possível aos governantes cuidar dos clássicos afazeres, deveres do Estado: educação, saúde, infraestrutura e segurança. O interessante é que já se destinam razoáveis recursos para educação e saúde. A posição do País não é tão ruim. Mas falta gestão focada na melhoria dos resultados. Da mesma forma, com uma postura mais crítica, mobilização da sociedade e aplicação de gestão haveria grande avanço na área da segurança. Assim, o futuro não estaria perdido. O emissário, com um olhar mais otimista, diria que há grandes chances de sucesso em empreendimentos na região. Talvez dissesse: aguarde alguns meses, porque muita coisa boa deve acontecer.

 

PUBLICADO NA REVISTA VIVER BRASIL, EDIÇÃO 179