O SALÃO DE FESTAS DO MUNDO*

  • Em colaboração com Rodrigo Coelho de Godoy, pós-graduado em Administração de Esportes, Universidade de Liverpool, Inglaterra.

 

 

Os Jogos Olímpicos do Rio vão deixar saudades. Foram 17 dias em que o esporte de alto desempenho encantou o mundo, que estava com atenção voltada para o Brasil à espera de acontecimentos catastróficos. Para o brasileiro, foi motivo de orgulho a exuberância e o bom gosto das cerimônias de abertura e encerramento, bem como a realização dos jogos sem grandes percalços.   As vitórias no futebol e vôlei masculinos, esportes mais populares do País, deixaram a sensação de que não só sediamos, mas vencemos os jogos do Rio 2016. No momento, realizam-se os Jogos Paralímpicos, num clima de normalidade, de festa e muita emoção. São modalidades em que o País se sai bem.

 

Em 2014, na Copa do Mundo, recebemos um amigo francês em casa. Ele nos disse que o Brasil deveria ser sede fixa de todas as Copas do Mundo e Olimpíadas de Verão, pois muitos países sabem sediar eventos com excelência, mas ninguém sabe fazer festa como o brasileiro. E constatamos, em 2016, que ele está mais do que certo. Gostamos do elogio, mas, racionalmente, não nos contentamos com um País com vocação exclusiva para “salão de festas”. No caso Rio 2016, a festa custou R$ 40 bilhões de reais, sendo R$ 7 bi no complexo olímpico. A iniciativa não foi ou não deveria ser por puro diletantismo. Esperam-se desdobramentos favoráveis para o País. Até o presente, não temos conhecimento de um substancial aumento na arrecadação de tributos, em qualquer esfera, que justificasse tal investimento.

Não se sabe sequer se haverá aumento do fluxo de turistas no futuro, pois a mídia internacional aproveitou-se da nossa atual crise e foi implacável com o Rio antes dos Jogos, destacando a desorganização e a insegurança (as primeiras manchetes é que ficam!). Depois, deu destaque a alguns incidentes durante as Olimpíadas, sem fazer um desmentido veemente sobre as primeiras notícias.

 

Sobre o desempenho esportivo brasileiro, foram mais R$ 3,2 bilhões de recursos públicos investidos, mais que o dobro da Grã-Bretanha. Não foi o suficiente para ficarmos entre os dez primeiros, enquanto os britânicos foram a grande surpresa, ficando na segunda colocação, atrás somente dos americanos.

 

Durante os jogos, alguns ídolos olímpicos americanos atribuíram o consagrado sucesso esportivo do país à prioridade que se dá ao esporte na escola. Os jovens são incentivados e há processos de identificação de talentos em vários esportes.  Quando se percebe um jovem com potencial, ele é direcionado a um centro educacional de excelência naquele esporte, onde será formado como atleta de alto desempenho, sem descuidar dos estudos. Esportes para eles são prioridade. Já a Índia não os prioriza. Também não tem resultados relevantes. Prioriza investimentos em educação. Boa parte dos PhDs formados em todo o mundo continua sendo proveniente da Índia. Por isso, hoje a Índia é a economia que mais cresce no mundo.

 

Voltando ao nosso caso, não deveríamos nos deixar levar pelo emocional da bela festa, mas analisar pragmaticamente as nossas questões internas. A gestão pública continua investindo em tudo, deixando de priorizar o que é mais importante. Somos um país rico, mas temos uma educação deplorável, saúde pública completamente falida e segurança pública de apavorar qualquer cidadão. E quando se decide investir em esportes, coloca-se uma montanha de dinheiro e os resultados são medianos, pois há pouca inteligência gerencial no sistema que abrange desde o Ministério, passando pelo COB, confederações e federações esportivas. As escolas, que deveriam ser o início de tudo, além de não serem envolvidas, têm problemas muito mais estruturais para resolver, pois não cumprem nem mesmo sua atividade finalística, que é ensinar os jovens a ler, escrever e lidar com a aritmética básica. Basta ver a tragédia apontada pelo IDEB/2015.

 

Peter Drucker, o maior teórico da gestão mundial, disse certa vez: não há países subdesenvolvidos. Há países sub-administrados. Como não nos contentamos em ver o Brasil apenas como  “salão de festas” do mundo, temos esperança de que é chegada a hora de a classe política acordar para nossa dura realidade e começar a gerir o Brasil, de fato.

PUBLICADO NA REVISTA VIVER BRASIL, EDIÇÃO 183.