Dedico de 4 a 5 horas por dia à leitura. Começo com a Liturgia Diária e o seu envio,  por e-mail, a familiares e amigos, totalizando 72 pessoas. Depois a correspondência, seguindo-se as notícias, artigos técnicos, entre outros. Tenho também lido sobre a vida  de santos: São Bento, Santo Inácio de Loyola, Padre Pio de Pietrelcina, Santa Teresa de Jesus( de Ávila), São João da Cruz, foram os últimos. Faço algumas palavras cruzadas para exercitar a mente. Tenho que aproveitar bem o tempo, pois preciso dedicar-me também  às organizações de que participo: Instituto Aquila, Fundação de Desenvolvimento Gerencial, Fazenda São José, e aconselhar a duas outras instituições. Ah, tenho também que escrever artigos, rever apresentações, o blog, etc. Isto posto, digo que não me sobra muito tempo;  não consigo ler tudo que me aparece e mesmo garimpar leituras importantes. Mas conto com ajuda de amigos e familiares que me indicam material de leitura. Veja abaixo o que me indicou a minha irmã, Ana Godoy. Reproduzo o texto de RUTH MANUS. Achei interessante, mas faço um correção: na minha família, com 5 irmãs e 6 irmãos, a interação era bem cordata, sem disputas. Também, morando numa fazenda, havia muito espaço e muita coisa a fazer, para todos os gostos. Os irmãos disputavam somente a bola nas “peladas” de fim de tarde.

 

Viver longe dos irmão é viver longe de nós mesmos.

Houve um tempo em que morar na mesma casa é que era o problema. Começamos com as disputas pelos brinquedos, depois pelo controle remoto, evoluindo para a trilha sonora no carro e o tempo de ocupação do banheiro. Tudo era razão para eclodir um embrião de guerra civil.
Todos nós já desejamos, do alto da nossa imaturidade convicta, que eles desaparecessem daquela casa. Que eles não acabassem com as bolachas recheadas, não comessem o último pedaço da lasanha, nem sumissem com as nossas meias preferidas.
Já gritamos enfurecidos, dizendo que não queríamos dividir quarto com eles.
E então os anos passaram e finalmente saímos de casa. Nós ou eles, ou nós e eles. Carreira, estudos, casamento ou qualquer outra razão fez com que aquele velho ninho da discórdia passasse a fazer parte apenas da memória e não mais de um dia a dia conturbado.
Pareceu-nos, muitas vezes, na ignorância da infância ou na estupidez da adolescência, que a felicidade seria muito mais viável sem a presença diuturna daquelas criaturas que insistiam em invadir nosso espaço, apesar de todas as ameaças que julgávamos lhes fazer.
Mas essa ideia, como tantas outras que imaginávamos sobre a vida adulta, era uma cilada.
Hoje descobrimos que é extremamente dolorido ter que aproveitar a presença deles em eventos com hora marcada para terminar. Almoços, jantares, visitas. Que coisa sem cabimento, eles têm hora para ir embora? Eu tenho hora para ir embora? Não, espera aí. Irmãos não foram feitos para ir embora. Foram feitos para ficar aqui, para podermos brigar sem pressa, ofender sem querer e amar sem prazo.
Agora nos flagramos adultos, acelerando as conversas quando nos vemos, tentando aproveitar-nos ao máximo, lutando contra o relógio. Nos vemos tapando buracos com mensagens de whatsapp e linkando seus nomes em publicações de redes sociais que só eles entenderão. E às vezes, como quem sente uma pontada no peito, nos damos conta de que isso é tão, tão pouco.
As distâncias variam. Alguns moram a 50 metros, outros a 50km. Outros mais sofridos vivem a 500km ou 5.000km. Em sua medida, todos sabem como doe. Os beliscões de antigamente foram substituídos por abraços sedentos. E nós descobrimos que os abraços raros doem muito mais do que os beliscões raivosos.
É bom saber que todos tomamos algum rumo, ainda que torto. É bom ver que a vida de cada um de nós caminhou. Mas é quase insuportável a ideia de tornar-se um espectador na vida de um irmão.
Irmãos nunca deveriam ficar longe uns dos outros. Juntos sempre foi melhor. Brigando, criticando, estapeando. O problema é que a vida adulta não nos faculta o luxo do perdão automático, nem da memória curta. Talvez por isso o tempo nos obrigue a aceitar alguma distância. Talvez, depois de abandonar a infância, a distância seja exatamente o que nos mantenha mais unidos.
Não sei. Sei que, de um modo ou de outro, machuca. Ir embora sem conversar tanto quanto queria, pedir socorro às tecnologias para sentir-se menos distante, não ter nem tempo para brigar e beliscar como sempre foi. Mas é uma daquelas dorzinhas de sorte da qual só usufrui quem teve a felicidade de ter um irmão presente, que já foi odiável e irritante, mas que hoje é uma saudade diária e a certeza de que para estar junto não é preciso estar perto.

POR RUTH MANUS