*Em colaboração com Rodrigo Godoy

O ano de 2020 trouxe uma pandemia. No enfrentamento do vírus, a medida tem sido o distanciamento social, o que tem causado a paralisação da maioria das atividades econômicas. Corremos risco de entrarmos em uma depressão global, dependendo do tempo necessário para encontrarmos soluções definitivas. No Brasil, as consequências podem ser devastadoras, principalmente no emprego e renda, logo agora que vínhamos, com medidas econômicas certas, porém com efeitos de médio prazo, nos recuperando dos malfeitos que nos levaram à beira do abismo.

Os efeitos e aprendizados dessa crise ainda são difíceis de prever. Certa vez, disse Jack Welch, histórico CEO da GE: “o ser humano odeia mudança. E é por essa razão que os líderes precisam, além de dizer que é necessário mudar, dizer também o porquê é preciso mudar, e o que cada um ganha com isso”. Mesmo assim, o nosso palpite é que a maioria das mudanças ocorrem, não pela força do líder, e sim pelos desafios de sobrevivência e pela consequente necessidade, às vezes brusca, de adaptação. É a psicologia humana!

Um efeito secundário dessa crise nos salta aos olhos: o trabalho intelectual remoto está sendo testado pela primeira vez em larga escala, e parece que veio para ficar. Ele não nasceu hoje, pelo contrário. Domenico de Masi, no livro “O Ócio Criativo”, apontava uma tendência crescente ao “teletrabalho” a partir do aperfeiçoamento de tecnologias. Estas estão disponíveis certamente há mais de uma década e em contínuo aperfeiçoamento, junto à multiplicação de velocidade de nossas redes de transmissão de dados. Muitos já a usavam, as empresas de tecnologia, por exemplo. Mas outros continuavam resistentes. Não foi a inovação em si, ou o bom exemplo das lideranças que nos levou à adoção em massa dessas tecnologias, mas a necessidade de adaptação ao contexto atual.

A pandemia vai passar, Deus queira que em breve. Mas fica a pergunta: com o distanciamento e aprendizado do trabalho remoto, o mundo será o mesmo? As aéreas venderão o mesmo volume de tickets para empresas? As pessoas que exercem trabalho intelectual continuarão a usar automóveis diariamente, entupir as vias de trânsito por horas, poluindo o ar das cidades, para fazer o que poderiam fazer de casa? As leis do trabalho que preveem jornadas fixas presenciais serão as mesmas? Haverá necessidade de grandes escritórios para abrigar exércitos de trabalhadores intelectuais? Os imóveis dos grandes centros terão os mesmos preços? É óbvio, teremos outra realidade.

PUBLICADO NA REVISTA VIVER BRASIL, EDIÇÃO 332, DIGITAL