Coincidentemente, após eu escrever o artigo “que Renasça a Esperança”, em que menciono a minha passagem pela Noruega, tomo conhecimento de uma experiência que está sendo realizada no Paraná.

A ideia foi de um professor de Engenharia, inspirada no período em que ele viveu na Noruega. Foi um choque de culturas. “Lá, eles deixavam os produtos na rua, as roupas, as frutas. A pessoa pegava a fruta na banca e entrava no comércio para pagar. Se quisesse pegar a fruta e ir embora, podia”, lembra André Luís Shiguemoto, professor que coordena o projeto.

De volta ao Brasil, o professor foi atrás de patrocínio e montou o projeto na UTFPR- Universidade Tecnológica Federal de Cornélio Procópio, norte do Estado.

A faculdade está usando picolés para testar honestidade. No corredor da entrada principal do campus, um freezer lotado de picolés. Custa R$ 2,00/cada. Não há vendedor nem câmera vigiando. É só pegar e depositar o dinheiro na urna ao lado. O gesto esperado numa cena corriqueira virou teste de confiança. É a revelação do caráter, uma prova de honestidade. “Você agir ilegal, você passar para trás é uma coisa que não pode, é uma coisa errada”, diz um estudante.

Sempre que termina o estoque, o pessoal conta o dinheiro para saber como foi o movimento. O balanço é público e fica exposto num mural. Em um mês, foram retirados 2.400 sorvetes e 50 deles deixaram de ser pagos. Dá pouco mais de 2% de calote, lá chamado de “taxa de esquecimento”. O teste do picolé também foi parar nas salas de aula. Alunos usam o projeto para discutir a corrupção que, segundo eles, pode nascer de pequenos desvios, no nosso jeitinho do dia a dia. “Quem rouba um sorvete pode facilmente roubar a merenda das crianças ou milhões da saúde e da educação”, afirma o universitário Joel Slipack. “Você pega dois hoje, amanhã pega quatro, depois pega seis, dez. Então, o projeto vem para tirar esse hábito. Você simplesmente pega e faz o que tem que ser feito”, diz o professor.

O lucro com a venda dos picolés vai ser doado para entidades assistenciais de Cornélio Procópio.

Meu comentário: alguém poderá dizer que a “taxa de esquecimento” é baixa. Julgo que deveria ser zero. Principalmente, se levarmos em conta o ambiente em que a experiência é realizada. Trata-se de uma população de futuros dirigentes do País que deverão conduzir as sua atividades honestamente, sem nenhuma taxa de deslizes.