Após uma palestra, fui perguntado sobre a razão pela qual a sustentabilidade não sai do papel, apesar de grandes discussões como as Conferências da ONU, Estocolmo 1972, Rio ECO-92 e Rio+20. Na década de 80, a ONU nomeou a ex- primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Bruntland, que produziu o Relatório denominado “Nosso Futuro Comum”, concluindo que o desenvolvimento deve ”satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades”. Hoje há a consciência de que a sustentabilidade envolve questões sociais, energéticas  e ambientais.

A questão é complexa. Países ricos cresceram materialmente utilizado de forma desregrada recursos naturais, devastando, degradando e poluindo.  Agora relutam em baixar o nível de seu “bem estar” para cuidar dos passivos existentes. Países pobres, principalmente os emergentes, tentam desenvolver-se com a adoção de práticas semelhantes, pois é oneroso  cuidar dos temas atinentes à sustentabilidade. Daí, o impasse.

Entendo que, sem o consenso, o motor para a mudança deve ser o cidadão. E isto se daria por meio da educação. Não me refiro à instrução, pois há muita gente instruída, da classe privilegiada, mal educada. No bairro de classe média alta em que moro motoristas  avançam sinais de trânsito e buzinam insistentemente atrás de quem está mantendo o limite de velocidade; síndicos  determinam a  limpeza de passeios de pedras portuguesas, gastando água potável, energia elétrica e trabalho humano, além de remover a junção das pedras; pessoas  não recolhem fezes de seus cães,  principalmente bem cedo e à noite, na praça onde centenas de pessoas fazem caminhadas; empresas fornecedoras de concreto para construções poluem ruas, não limpam e ninguém toma providência (a mistura petrifica-se, transforma-se em saliências na pista). Estes são alguns exemplos de uma série de absurdos que é cometida.

Quanto às classes menos favorecidas (como é triste admitir a existência delas!), tanto a instrução como educação são deficientes. Centenas de toneladas de lixo são lançadas nas ruas das principais cidades brasileiras Quem nunca viu serem lançados detritos de janelas de ônibus e carros em rodovias? Temos uma fazenda às margens da BR 116. Quem vai ao litoral do ES e sul da BA por ali passa. Todo mês recolhemos 5 sacos  de lixo de 30 litros  no espaço de 2 km, entre a cerca e a rodovia, garrafas plásticas, latas de bebidas, fraldas descartáveis, principalmente. No período de férias a quantidade de lixo dobra. Com isso, lembrei-me de uma estória narrada há mais de 30 anos por um estudante nos EUA. Ele estava em um táxi, abriu a janela e atirou uma garrafa descartável. O taxista disse que ele não poderia fazer aquilo e que ele seria multado. Ninguém viu, disse ele. O taxista retrucou: eu vi e vou denunciá-lo. O rapaz pediu para parar o carro  e recolheu a garrafa.

Ora, se as pessoas não são fieis às pequenas coisas, como podem cuidar das grandes questões?  Penso, então, que  a educação é a chave  para a sustentabilidade deslanchar e foi isso que respondi à pergunta formulada.  O interessante é que antes mesmo de Estocolmo 1972, o Programa 5S (sensos de utilização, ordenação, limpeza, saúde e autodisciplina) já contribuía para a sustentabilidade. Nós o aplicamos em muitas escolas com grande sucesso, pois os jovens praticavam com entusiasmo  os sensos e  levavam as ideias para as famílias e suas comunidades. Alguns países asiáticos adotaram o Programa em âmbito nacional. Daí a consciência e disciplina daqueles povos. Por que o Brasil não o adota? Em escolas do país deveria ser obrigatório. É tudo uma questão de atitude, gerenciamento e ataque a causas fundamentais que provocam os maus resultados. Campanhas e exortações não resolvem.  E pensar que a Austrália foi a penitenciária da Grã-Bretanha, que para lá mandou 165 mil condenados, e hoje é o 2º. IDH do planeta. É tudo uma questão de se ter um projeto consistente, gestão eficaz, legislação rígida e seu cumprimento para que haja o crescimento humano e econômico. Por fim, só as crianças podem mudar a realidade atual, pois maioria dos adultos já está condenada.