O Brasil é o 79 o na competividade internacional e é um dos países mais difíceis para se
fazer negócios, sendo o 125 o entre 190 países. Sendo a 9 a economia mundial, pareceria
que os dados acima são incompatíveis com a realidade. A indústria siderúrgica mundial
tem capacidade de produção muito superior à demanda. Para que um país conquiste
mercados tem que ser muito competitivo. A capacidade brasileira é de 49mi ton;
produziu apenas 30,2mi, em 2016, pois tem baixa demanda interna (o consumo per
capita é o mesmo de 1970) e não houve condições competitivas para exportar numa
escala maior. Quando fui professor na Metalurgia da UFMG (fui coordenador da pós-
graduação e chefe do Departamento por vários mandatos), a siderurgia brasileira era
competitiva: estava na vanguarda tecnológica, com equipamentos modernos e centros
de pesquisas muito ativos, staffs técnicos para estudar e implementar melhorias. Na
UFMG, formamos grande número de mestres e doutores para várias siderúrgicas e
também implementamos programas de gestão para melhoria da qualidade e aumento
da produtividade.
Passados alguns anos, verificamos que os chineses passaram a colocar vários tipos de
aço no nosso mercado, a custos até 20% mais baixos. É claro que isto causou certa
perplexidade. Veio um leque de desculpas. A mais contundente era que os
trabalhadores chineses eram mal remunerados e trabalhavam num regime de quase
semiescravidão. Hoje há estudos mostrando que a renda dos chineses já é superior à
dos brasileiros. Como ainda são competitivos, apesar de importar minérios e o custo
de logística ser elevado? Nossa baixa competitividade deve-se à luta contra
obsolescência dos equipamentos, ao custo exorbitante da energia, aos altos tributos
(não exportamos aço, mas tributos), aos custos internos elevados, à gestão deficiente.
É possível reduzir custos internos em pelo menos 20%, mas cada um julga que isto é
possível no setor do outro. A maneira japonesa de atuar em termos de gestão foi a
nossa escolha no passado. Depois de um hiato, retomamos recentemente contato com
o Japão. Ainda existe a obsessão pela melhoria contínua e, principalmente, pela
redução de custos. Aqui, para muita gente, foi uma onda que passou, um modismo.
Explica-se, então, a nossa posição no cenário mundial. Pior, não se vislumbra uma
reação, pois o País não tem um planejamento consistente e tampouco uma política
industrial capaz de mobilizar o setor.