Autor: José Martins de Godoy

Não há como ser otimista

Em artigos recentes, demonstrei certo otimismo na melhoria do país e arrolei argumentos para justificar tal otimismo. Agora, vejo que a situação vem se deteriorando. A economia é um termômetro que mostra a evolução de indicadores. A inflação se eleva, o desemprego aumenta, a renda média do trabalhador cai, o investimento não vem, grande parte da população está endividada e a inadimplência cresce. Medidas macroeconômicas empurraram o Brasil para a crise, nunca antes vista neste país. É elementar: uma pessoa, uma família, uma empresa ou um país não pode gastar mais do que ganha ou arrecada. Entre nós, essa prática é negligenciada. Para pessoas e empresas, quando se atingem patamares insustentáveis, as consequências são dramáticas, resultando em apreensão de bens e falências. No país, a dívida pública aumenta a cada ano, podendo atingir valor insustentável. Ainda agora, reduziu-se a meta de superávit fiscal; jogou-se a toalha e não haverá poupança para pagamento de juros da dívida. Acho uma irresponsabilidade. Cadê o esforço do Executivo? Continuam 39 ministérios, milhares de cargos comissionados, nada de privatizar empresas estatais. Projetou-se, no início deste mandato presidencial, um arremedo de ajuste fiscal. Está incompleto, e o Congresso não ajuda a sair da crise. O citado ajuste só pune trabalhadores e empresas, principalmente. O Congresso tem criado novas despesas, como aumento do fundo partidário, retirada do fator previdenciário, auxílio-moradia para deputados, entre outros. A Grécia,...

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O futuro chegou

Realizou-se, em maio deste ano, o Fórum Visão de Futuro Aquila 2020, destinado a discutir estratégias para atingir metas projetadas para aquele ano. Contou-se com a participação do sociólogo Domenico De Masi, que veio ao Brasil fazer o lançamento do seu novo livro O Futuro Chegou. Em brilhante palestra, discorreu sobre circunstâncias em que autores denominaram o Brasil como o país do futuro. Até hoje, é quase consenso que continuamos a nos considerar como tal. Todavia, o autor mostra, com convincentes argumentos, que o nosso futuro já chegou. Na sua opinião, “o Brasil submeteu-se e, de certa forma, aceitou o modelo europeu por 450 anos e depois o americano por 50 anos. Mas isso não o impediu de cultivar seu próprio caráter….”. Defende que o modelo brasileiro “espera somente ser mais conceitualizado, ser explicitado e oferecido ao mundo pelos intelectuais brasileiros, assim como já tentaram fazer, no século 20, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro e outros grandes inventores do Brasil”. Vale a pena debruçar-se sobre a abra, principalmente o último capítulo dedicado ao Brasil, para melhorar a nossa autoestima, reconhecendo os impressionantes atributos de que dispõe o país. Temos o complexo de vira-lata, e precisamos reconhecer os nossos feitos e potencialidades, realçados pelo insigne pesquisador. O Brasil tem significativos trunfos para ser um grande protagonista no cenário mundial: tem grande extensão territorial, vasta gama de recursos naturais (a matriz energética...

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Tempo de otimismo, apesar de tudo

Cerca de 50 artigos meus foram publicados por esta revista. Na maioria, abordei temas referentes à administração pública, enfatizando a precariedade da aplicação da gestão em várias esferas de poder. Dirigentes máximos conduziram o país como um navio à deriva, sem planejamento, metas e controles orçamentários. Haja vista as refinarias da Petrobras, que já consumiram somas impensáveis e estão longe de ser concluídas. O descaso com a saúde e a educação, a irresponsabilidade na área da segurança (eu já fui submetido a um arrastão num prédio em que morava, e muitos integrantes da minha família já foram vítimas de outros graves episódios envolvendo segurança – um país em que morrem 42 mil pessoas/ano assassinadas só pode estar em guerra), a negligência com a infraestrutura (o desenvolvimento econômico está intimamente associado à infraestrutura e quase nada foi feito nos últimos anos), a corrupção endêmica, o gigantismo do estado e seu aparelhamento, que geram gastos exorbitantes e distorções, foram temas abordados e sobre os quais não podemos nos silenciar. Recentemente, fui tomado de certo otimismo. Julgo que atingimos um ponto de inflexão. Concluí que, de agora em diante, as coisas devem mudar. Vejamos: 1 – A corrupção está recebendo duro golpe (embora perceba que há pessoas querendo torpedear o seu combate). 2 – Busca-se desatar o nó da infraestrutura com novas concessões. Com a queda dos preços das commodities e com...

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Tributo a Paulino Cícero

Nestes tempos de julgamento do Mensalão, implementado no coração da República (há quase consenso de que Lula de tudo sabia),  de CPMI do Cachoeira, decresce a confiança nos políticos.  Sei que  nem todos são corruptos e desonestos. Tenho políticos na família: meu irmão já foi prefeito de Açucena, sem nenhum reparo na sua conduta, e elegeu-se recentemente a prefeito de Periquito; um parente do lado Castro elegeu-se prefeito de Marliéria e outro do lado Assis prefeito de Antônio Dias; Arnaldo Godoy é vereador de Belo Horizonte  e reelegeu-se pela 5a. vez.  Por eles ponho a mão no fogo.  Quando estudante, tinha grande admiração por Milton Campos, Pedro Aleixo e Carlos Lacerda.  Mais tarde, tive Paulino Cícero de Vasconcellos como  um dos modelos de homem público.  Ainda muito jovem, foi eleito prefeito de São Domingos do Prata, depois deputado estadual por 2 vezes, federal por 5 vezes, foi Secretário da Educação e Secretário de Minas e Energia  de Minas Gerais, Ministro de Estado de Minas e Energia, Presidente da Usiminas, entre outros.   Por mais de 40 anos serviu o País com dedicação, competência e comportamento ético. Paulino é meu vizinho no Bairro Belvedere, BH. Eu o encontro nas caminhadas no calçadão da Lagoa Seca.  Político aposentado, mas  ainda  faz consultorias e advoga.  Vive de forma digna, confortável, sem ostentação. Quanta diferença! Há  pessoas que só exerceram cargos políticos, e alguns...

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O dedo que faz a mágica

No Brasil, além do jeitinho, há o costume de se tentar conseguir as coisas sempre com o menor esforço. Em vez de aprenderem, algumas pessoas querem de imediato o ”dedo que faz a mágica”.  Vi este tipo de episódio acontecer várias vezes em minha trajetória.  Em 1993 o nosso movimento pela qualidade já era um grande sucesso. Tínhamos treinado cerca de 150 mil executivos. Empresários e políticos chegavam a fazer lobby para conseguir vagas nos nossos treinamentos. A disputa era tão acirrada que o tamanho ideal de uma turma era de 80 pessoas, mas tive que de aceitar até 135 participantes por turma. De fato, não era o ideal, mas considerei que era estratégico fazer isso pensando nos benefícios para o País.   Também, a assistência técnica  a empresas para implementação do método de gestão já era uma realidade. Àquela altura, devido ao vulto que alcançamos,  muita gente queria saber o segredo do nosso sucesso. Muitos pensaram que a chave de tudo era a nossa parceria com a JUSE-União Japonesa de Cientistas e Engenheiros. Executivos de organizações nacionais que pretendiam copiar a nossa atuação  lançaram-se à empreitada de buscar a mesma parceria que tínhamos com os japoneses. Uma importante organização do Rio Grande do Sul convidou o Sr. Junji Noguchi, diretor executivo da JUSE, para ser um dos palestrantes no congresso anual que promovia. Seria um bom momento para cooptá-lo. Outra organização paulista, usando influência política, buscou...

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