Gosto dos tempos presentes. A modernidade tem seu imenso valor. E pensar que ficava 6 meses sem comunicação com a família que morava a incríveis 276 km distante de Belo Horizonte. Isto no final da década de 1950 e inicio dos anos 60. Só por carta ou telegrama ( em alguma emergência) conseguia mandar notícias e  ter as respostas de volta. Ou então, a visita de algum parente ou amigo. Parece brincadeira falar daquele passado não tão distante. Acho que ninguém pensaria que as comunicações pudessem ter o avanço dos dias atuais. Agregue-se a isso todo o progresso que se deu  em todas as áreas.

Mas falar da infância tem seu sabor. A minha foi ótima. Inesquecível. Em muitos detalhes parecida com a linda  poesia de Casemiro de Abreu. Dos meus tempos de estudo da Literatura Portuguesa, reproduzo umas das mais lindas páginas do poeta:

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d’amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
…………………………..
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

Casimiro de Abreu