A educação no Brasil vai de mal a pior, apesar do que andam afirmando políticos mais interessados em se sustentarem no poder do que enfrentar os problemas reais do setor. Tudo em nossa educação nos parece óbvio, de fácil diagnóstico e de solução, embora demorada, única. Recentemente, a Fundação de Desenvolvimento Gerencial realizou o seu 5º Seminário de Melhores Práticas de Gestão Educacional, quando foram apresentadas e discutidas as experiências de 20 escolas parceiras que implementaram as práticas sugeridas, constantes da nossa estratégia Gestão Integrada da Escola (Gide).

Estas escolas são o testemunho de que a gestão para resultados funciona muito bem no ambiente escolar, tanto é que várias delas já alcançaram metas propostas pelo IDEB para 202l. Um dos palestrantes do seminário foi o economista Gustavo Ioschpe, articulista da revista Veja, que apresentou dados e experiências que recolheu em suas inúmeras viagens ao exterior e ao interior do Brasil. São números alarmantes, que comprovam a nossa regressão em indicadores importantes, como repetência na 1ª série do ensino fundamental, capacidade de parte da população em entender um texto simples. Em outros, como a produtividade do trabalhador e competitividade do país são problemas que estão intimamente ligados à educação.

Para muitos, a fala de Gustavo Ioschpe foi uma surpresa. Para mim, e para a equipe da fundação, nem tanto. Os números apresentados e as conclusões a partir deles estão em perfeita sintonia com nossas constatações, após 16 anos de trabalho em mais de 5 mil escolas públicas. Foi a partir delas que, há dois anos, nossa equipe publicou um indicador síntese de fatores que possibilita, com rapidez, determinar o que não está funcionando em uma escola. É o Índice de Formação de Cidadania (IFC). Com base nesse indicador, produto da nossa experiência acumulada, podemos com segurança indicar o que a escola prioritariamente necessita: 1 – Infraestrutura física e administrativa mínimas. 2 – Liderança (entendendo-se como líder uma pessoa capaz de mobilizar sua equipe para atingir resultados, de resolver problemas, de atingir metas). 3 – Professores em sala de aula (o absenteísmo é imperdoável). 4 – Alunos em sala de aula. 5 – Disciplina em sala de aula. 6 – Cumprimento do programa. 7 – Utilização dos livros didáticos. 8 – Realização de atividades extraclasse. 9 – Avaliações regulares e exigentes. 10 – Presença das famílias nas escolas. Estes itens são designados no IFC como faixa branca, que devem ser tratados globalmente para que haja melhoria nas escolas. Tenho acompanhado há anos intervenções da sociedade civil para a melhoria da educação, além dos esforços públicos. São promovidos cursos, seminários, encontros, debates, visitas a outros países, vinda de especialistas do exterior. Somas significativas são investidas.

Já estamos saturados de saber como são as práticas de outros países na área educacional. Apesar disso, na prática, muda-se muito pouco. Não há um breakthrough, um avanço palpável. É óbvio que faltam os itens básicos acima listados, principalmente gestão para melhoria dos resultados. Bom seria se todos os recursos envolvidos fossem canalizados a um fundo para profissionalizar o professor. Algo atrativo que permitisse selecionar os docentes, pagar bem, treiná-los nas matérias sob responsabilidade deles, sem que houvesse tantos desvios de função, absenteísmo, tantas licenças médicas, expedientes para afastamento da sala de aula. Vários governos estaduais começaram a aplicar gestão para resultados na educação. Mas não há persistência.

Na maioria dos casos, os programas são abandonados pelos governos sucessores que paralisam tudo ou iniciam nova estratégia. Há também situações em que os resultados melhoram e os governos dão-se por satisfeitos, sem se aprofundarem nas práticas. Isso também acontece em estados que tentam implementar gestão na atividade administrativa. Combatem-se desperdícios, melhora-se a qualidade dos gastos, aumentam-se receitas, melhoram-se os resultados globais. Os governantes então dão-se por satisfeitos apenas por tratarem da ponta do iceberg. Ainda há um mundo de ganhos e melhorias a serem conseguidos.