O agronegócio é responsável por cerca de 23% do PIB brasileiro. Contribuição maior poderia ser obtida se fossem aproveitadas   terras cultiváveis, clima propício e recursos naturais.  Há enorme potencial para  aumento da produtividade por meio de irrigação. Por exemplo,  Minas Gerais tem apenas 1/4  de terras irrigadas,  com relação a área passível de ser trabalhada.

No Rio Doce, conheço apenas dois projetos de irrigação, um  de plantio de milho e capim para gado e outro de produção de grama.  Porém, há fazendas  subutilizadas, com topografia adequada,  rios caudalosos nas imediações (o Rio Doce e principais afluentes, Rios Santo Antônio, Corrente, Suaçui Grande e Pequeno, Itambacuri), clima favorável, condições propícias a projetos de irrigação. Isto viria trazer grande impulso à agropecuária, vocação natural da região. Nos dois últimos anos, choveu muito pouco. As pastagens estão degradadas, há erosões, rebanhos reduzidos pela escassez  de pastos. É impossível conduzir a atividade rural com tão baixa produtividade e resultado deficitário ao fim de cada ano. Muitas fazendas estão quase abandonadas e muitas  à venda. Ou seja, a região vive um marasmo sem precedentes.

Julgo que  agentes responsáveis pelo setor deveriam ser francamente proativos. Deveriam visitar as fazendas, indicar soluções, oferecer tecnologias, ensinar a utilizá-las, como obter  créditos e ajudar a superar, sobretudo, a burocracia envolvida.  Existem tecnologias apropriadas  e crédito fácil; porém, é preciso convencer as pessoas, incentivá-las, em suma, ensinar o “caminho das pedras”.

Minha família possui fazendas de portes razoáveis na região. Com a falta de chuvas nos dois últimos anos e a tendência mostrada este ano (estamos em dezembro e  choveu muito pouco por lá), a situação está cada vez mais difícil.   A continuar assim, ter-se-ia que reduzir o rebanho ainda mais. Além disso, não se concebe produtividade tão baixa para tais fazendas. Pesquisando opções, decidimos irrigar inicialmente 200 ha. Parece fácil dizer que isto será feito em curto prazo. A parte técnica e a burocracia decorrente são grandes desafios. Há etapas como levantamento topográfico, elaboração do projeto, escolha da tecnologia,  do fornecedor, construção e montagem dos equipamentos e preparativos para sua instalação, entre os quais a preparação do terreno para a circulação dos pivôs. Com o projeto técnico em mão, passa-se à fase de cumprimento dos requisitos burocráticos, como  Reserva Legal(RL), outorga de águas, licença ambiental, etc. Não estou defendendo que não devam existir tais exigências. Ocorre que é   preciso contratar pessoal especializado que conheça os trâmites  para obtenção desses itens,  para não morrer na praia. Há tempos, compramos uma fazenda na mesma bacia hidrográfica, para que respondesse pela RL de duas outras fazendas.  Como existe uma pendência de divisa com um dos confrontantes, o assunto está sendo discutido na justiça há cerca de três anos, sem previsão da decisão. Optou-se, então, por alocar a RL na própria fazenda em que a irrigação será feita, para não atrasar o processo.  Há também  necessidade de negociar o fornecimento adicional de energia com a Cemig (isto deve ser fácil, uma vez que a empresa tem a fama de atender prontamente aos clientes), pois a rede e potência existentes são insuficientes para o projeto. Por último, passa-se à fase de obtenção do financiamento da Finame, por se tratar de um projeto de relativo porte e custo significativo. Contudo, há firme decisão em  implementar o projeto, não sendo possível prosseguir a atividade da forma atual. No momento, procura-se amenizar o problema fazendo  engorda de gado  em confinamentos, com rações e milho comprado do Triângulo Mineiro. Porém,  grande área da fazenda fica subutilizada.

Se houvesse, de fato, planejamento no Brasil e esforços concentrados para o desenvolvimento, a maratona descrita seria cumprida com mais facilidade. Aliás, os agentes governamentais pertinentes deveriam  mobilizar e ajudar os proprietários a aumentar a produtividade de seus empreendimentos. Há seis anos possuímos as fazendas; nunca fomos contatados ou tivemos notícias da atuação de tais agentes, logo estão “confinados” nos escritórios.