O Carnaval é um excelente período para quem não gosta desse acontecimento. Em BH, existia relativa calmaria, quebrada agora por desfiles de blocos no centro da cidade, vindos de alguns bairros. Felizmente, no Belvedere, o silêncio e a quietude trouxeram paz à mente. Ruas vazias, poucos carros, menos pessoas a caminhar no calçadão da lagoa seca. Só saí de casa no domingo para ir à missa. Como vejo noticiários, foi impossível ignorar desfiles de escolas de samba, bombardeado por notícias desses eventos. Há muitos anos vi, pela televisão, desfile inteiro de uma escola para me inteirar do que se tratava. Hoje adoto o lema: quem viu um, viu todos. Às vezes, perguntam-me se eu assistiria presencialmente a um desfile. Resposta negativa. Existe aquela máxima de que quem não gosta de samba, bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé. Nem uma coisa, nem outra. Até que provem o contrário, a cabeça é boa e não há nada de errado com os pés. Joguei futebol durante muitos anos e hoje faço longas caminhadas. Nada de errado com o samba; não gosto da atmosfera permissiva que permeia o Carnaval.

Todavia, é forçoso admitir que existe forte esquema de gestão nas escolas de samba. Deve haver objetivos bem definidos, planejamento perfeito, com metas, planos de ação, ferrenho acompanhamento da execução das ações, quesitos indispensáveis à obtenção dos resultados almejados. São tarefas complexas, com centenas de pessoas envolvidas, requerendo eficiente administração dos recursos. Mesmo assim, no dia e hora aprazados, a escola entra na avenida. Oxalá, no Brasil, seguissem o que é praticado nessas escolas. Existem projetos que não saem do papel, outros que não cumprem os prazos e orçamentos, inúmeras obras inacabadas. Tomei conhecimento de que várias obras no Mato Grosso, que seriam para a Copa do Mundo, estão inacabadas e algumas não serão feitas por falta de recursos. Quando sugiro procedimentos adotados pelas escolas, refiro-me àqueles legítimos que viabilizam o perfeito cumprimento dos objetivos traçados. Não me refiro ao método de captação de recursos, que, aliás, não conheço nem quero conhecer. Na voz do povo, consta que há contribuições provenientes de atividades ilegítimas, como jogo do bicho, entre outras.

A campeã do Carnaval do Rio homenageou a Guiné Equatorial. Por que a Guiné? Que há de tão especial nesse país para merecer tal destaque? A vice-campeã abordou a culinária mineira, um enredo interessante, homenageando uma pessoa talentosa que contribuiu de forma admirável para essa culinária, uma história linda, com plenos méritos para serem divulgados. Por ironia, parece que a segunda colocada perdeu pontos exatamente no quesito enredo. Nada sabia sobre a Guiné. Informando-me, tomei conhecimento de que foi colonizada por Portugal. Da Guiné houve significativo tráfico de escravos. O regime autoritário do presidente Teodoro Obiang e seu filho Tedorin, vice-presidente, tem um dos piores registros de direitos humanos. Obiang está no poder desde 1979. A Guiné é um dos maiores produtores de petróleo do sub-Saara e tem o maior PIB per capita africano, mas a riqueza é mal distribuída. Seu IDH é médio, sendo que 22% das crianças morrem antes de completar 5 anos. Consta que ainda há tráfico humano, de mulheres e crianças. Obiang é um das grandes fortunas do mundo.

Com essas credenciais, a Guiné não teria importantes atributos para serem mostrados no desfile, não fosse a suposta contribuição de 10 milhões de dólares feita pelos dirigentes do país à escola. Acendeu-se grande polêmica, com a mídia dando grande ênfase ao assunto. Noticiou-se que o MPF iria apurar a citada doação. No início, o governo de lá negou, dizendo que foram as construtoras do Brasil que lá trabalham. Estas negaram. Agora, o governo retificou a informação, afirmando que os recursos foram de um fundo cultural. Devem ter aprendido com o Brasil. Criam cortina de fumaça na tentativa de que o assunto caia no esquecimento. Parece com o processo do petrolão. Apesar das denúncias, evidências e confissões, a maioria dos envolvidos nega ter recebido propinas, ter intermediado repasses a partidos. Adotam a tática de Goebbels: “Uma mentira, contada muitas vezes, torna-se uma verdade”. Esperam que negativas, ditas várias vezes, prevaleçam.